Os parentes da família paraibana que foi encontrada esquartejada na
Espanha descartam a possibilidade de o crime ter sido motivado por um
acerto de contas. Segundo Wilta Diniz, tia de Janaína Santos Américo,
ninguém sabe o que pode ter acontecido, mas a família das vítimas não
considera a linha de investigação das autoridades espanholas que
especulam um possível ajuste de contas.
“A gente espera justiça, que seja desvendado e que o nome deles, a
honra da família, seja limpa. Porque a gente não deve, isso não é
verdade, o que estão divulgando”, comentou a tia de Janaína. “Disseram
que até os documentos deles levaram. Não tinha nada na casa. Mas, a
gente não sabe, porque todo mundo fala muita coisa”.
O casal Marcos Nogueira e Janaína Américo e seus dois filhos, de 5 e 1
ano, foram encontrados mortos, esquartejados, na casa onde moravam em
Pioz, um povoado de menos de 4 mil habitantes próximo a Guadalajara, ao
nordeste de Madri. Os investigadores calculam que os corpos se
encontravam na casa há cerca de um mês e cogitam a possibilidade de
acerto de contas.
“O choque também é a forma como está saindo na imprensa, dizendo que
foi acerto de contas. A gente não tem ideia, a gente vai imaginar o que?
Eu sei que não foi [acerto de contas], isso eu tenho plena convicção.
Porque eu conhecia Marcos, eu conhecia Janaína. E ela não era uma menina
disso, nunca foi. Ela não tem amizades lá”, disse Wilta.
Wilta ainda explicou que o irmão de Janaína providenciou um
passaporte de emergência para ir até a Espanha. “Ele é o irmão gêmeo
dela, primeiro grau. Então ele é o mais indicado a ir, pra chegar lá e
resolver essas burocracias todas”, disse. O cunhado de Janaína, Eduardo
Bráulio, informou que a família não teve mais notícias do
Consulado-Geral do Brasil em Madri e que só vai ter mais informações
quando chegar lá. A viagem deve acontecer até a sexta-feira (23).
Ao G1, na segunda-feira (19), o Itamaraty informou que está
acompanhando o caso, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Madri, e
mantendo contato com as autoridades locais. Porém, em respeito à
privacidade dos cidadãos brasileiros no exterior e em cumprimento à
determinação das autoridades locais de que as investigações tramitem em
segredo de justiça, o Itamaraty informou que não está autorizado a
divulgar mais informações sobre o caso.
Marcos estava feliz, diz irmão
O irmão de Marcos, Walfran Campos, também não acredita que há
indícios para acreditar em acerto de contas. “Se ele estava com algum
problema financeiro ou recebendo alguma pressão de alguma pessoa, de
briga ou algo assim, ele nunca nos informou”, disse nesta terça-feira
(20). Campos explicou que na última vez que falou com o irmão, pouco
tempo antes de não ter mais notícias, ele estava feliz com as conquistas
obtidas e que a família não sabe o motivo pelo qual as vítimas foram
mortas.
Walfran, que é autônomo, conta que o irmão morava e trabalhava na
Europa há 15 anos e que após casar com a também paraibana Janaína
Santos, levou a mulher para morar com ele. Ele disse que há pouco tempo o
irmão havia sido promovido e se tornado sub-gerente da churrascaria
onde trabalhava.
“A última vez que falei com meu irmão foi no dia 16 de agosto, ele
estava empolgado porque tinha mudado de casa, ido morar numa casa boa,
em um condomínio fechado, e estava contente porque sabia que eu ia
visitá-lo, já estava de viagem marcada. A minha família também pensava
em ir passar o Natal com eles”, explicou.
A família nunca desconfiou de que poderia acontecer algum crime
contra as vítimas. “Ele nunca comentava nada com a família porque ele
não queria que a gente se preocupasse, mas a gente nunca desconfiou que
uma situação como essa, de matar quatro pessoas, sendo duas crianças,
pudesse acontecer. Qual o erro que meu irmão cometeu para matarem também
o meu sobrinho de um ano, a menina de quatro anos e a mulher dele? Para
nós isso foi forte demais e estamos sem entender o que aconteceu”,
disse Walfran.
O irmão da vítima também explica que o desejo da família é trazer os
corpos para o Brasil e que eles devem ser enterrados em João Pessoa,
onde moram os parentes das vítimas, mas que ainda não sabem quando
haverá a liberação dos corpos. “Como é uma coisa internacional, tem
muita burocracia e isso demora bastante. Estou falando com meus amigos,
tentando ver se alguém se movimenta para resolvermos isso”, disse.
Walfran Campos ficou sabendo após ler em um jornal a notícia.
“Ficamos sabendo através de um jornal. Meu cunhado comprou um
jornalzinho pequeno e lá tinha uma notícia falando sobre este caso dos
quatro brasileiros assassinados em Madrid. Ele me ligou, eu fui lá e
quando olhei e vi que eram dois adultos e duas crianças e no mesmo
endereço que meu irmão, eu associei. Fui em casa, olhei em um site
espanhol e tinha a foto da casa do meu irmão, foi quando confirmei o
caso”, completou Walfran.
Entenda o caso
Os corpos do casal e das duas crianças foram encontrados
esquartejados no domingo (18), na casa onde eles moravam, a cerca de 60
km de Madri. Um porta-voz da Guarda Civil informou que os corpos
esquartejados estavam em uma casa de Pioz, ao nordeste de Madri. Os
investigadores calculam que os corpos se encontravam na casa há cerca de
um mês.
As autoridades foram alertadas por um vizinho "que percebeu o odor"
procedente da residência, segundo a polícia. Segundo a imprensa
espanhola, os corpos foram achados em bolsas de plástico fechadas com
uma fita adesiva. Os agentes não encontraram sinais de que os assassinos
tenham forçado a entrada na casa da família.
"Temos a investigação sob segredo judicial e ainda não esclarecemos
as causas. Parece que foi feito por profissionais", acrescentou o
porta-voz. Apesar do sigilo da investigação, as autoridades especulam
sobre um possível ajuste de contas. "A forma com que os corpos foram
achados indica uma intenção de não deixar pistas e depois se desfazer
deles", afirmou Jesús García, tenente-coronel e investigador da Guarda
Civil. "Dá a impressão de que algo foi abortado em um determinado
momento, porque não é lógico que os cadáveres ficassem ali, dentro de
casa".
G1