quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Cidades da PB brigam por água e moradores dormem em barragem para protestar

Moradores dos municípios de Salgado de São Félix (Agreste do estado, a 81 km de João Pessoa) e Itabaiana (distante 70 km da Capital) estão em conflito devido à escassez de água na região. Segundo uma fonte, que preferiu não ser identificada na reportagem, “o clima é de guerra” entre as duas cidades.

Conforme o relato, um grupo de pessoas ocupou áreas próximas a mini barragem que abastece Salgado de São Félix para evitar que as comportas da represa sejam abertas, o que faria com que parte da água chegasse a Itabaiana. A população alega que abrir as comportas seria um erro, pois a mini barragem de Itabaiana está assoreada e não conseguiria represar a água.

“Vai ser um desperdício. Na semana passada fizeram isso e ficamos cinco dias sem água em Salgado. Ontem [segunda-feira], um pessoal da Cagepa quis abrir as comportas de novo. Os funcionários vieram acompanhados da polícia, mas a população não deixou que eles abrissem”, diz a fonte.

Com medo de que os funcionários da Cagepa voltassem durante a madrugada, moradores de Salgado de São Félix acamparam nas proximidades da mini barragem e até a manhã desta terça (15) seguiam de guarda no local.

Um texto divulgado nas redes sociais convoca a população para mais uma ocupação da área. “População salgadense, compareça na barragem para impedir a Cagepa e a Aesa. Não sabemos o horário, mas eles vêm hoje. Avisem a todos. Quanto mais gente estiver por lá, melhor", diz a mensagem.

“Salgado de São Félix só precisa de 28 litros por segundo, ao passo que Itabaiana precisa de 150 litros por segundo e a barragem recebe 380 litros por segundo. Então, está sobrando água em Salgado. A água está represando, fazendo lago e isso não é justo. O Rio Paraíba é de todos. A barragem não foi feita para Salgado de São Félix, a barragem foi feita para o povo. A população precisa entender que não vamos deixar ninguém sem água. As duas cidades têm o mesmo direito e a água é de todos”, defendeu.

Ainda conforme João Fernandes, a reivindicação parte de uma parcela da população que deseja usar a água da represa para fins proibidos. “O que acontece é que um grupo de pessoas está querendo represar a água para agricultura e carcinicultura, mas isso está proibido. A prioridade é o consumo humano, animal e urbano. E para isso temos água suficiente”, alegou o diretor-presidente.
Quanto à falta d’água em Salgado de São Félix na semana passada, João Fernandes disse que houve falha no gerenciamento das comportas. “A Cagepa tem autorização para mexer nas comportas, mas é necessária a supervisão da Aesa. O problema da semana passada é que na hora de fechar as comportas havia uma pessoa da Aesa presente, mas, na hora de abrir, não. Então, realmente, o pessoal ficou sem água. Mas isso não vai acontecer novamente”, garantiu.

O diretor-presidente da Aesa disse ainda que o conflito pode chegar ao Judiciário. “Queremos resolver isso de uma forma diplomática, na esfera administrativa, mas a justiça pode sim ser acionada. Aliás, a justiça pode interferir de ofício, por conta própria. E não há o que discutir nesse caso, o pessoal de Itabaiana precisa da água. A justiça não vai ficar contra o povo. Mas queremos muito que o povo de Salgado entenda isso e confie no nosso trabalho. Eles não vão ficar sem água. O gerenciamento será feito de forma adequada e ninguém vai sair prejudicado”, concluiu. 

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